As arquitetas Kathellen Carvalho e Emanuella Wojcikiewicz nos contaram como funciona o processo de identificação e conciliação dos estilos próprios com os dos clientes.
No último post falamos sobre a importância da impressão da identidade na nossa casa e mostramos um pouquinho dos caminhos que ajudam na construção de um lugar com a nossa carinha! Leia aqui!
Para complementar essa conversa, hoje trazemos dois estilos diferentes de profissionais que compartilharam como fazem para atender da melhor forma seus clientes.
Para a arquiteta e urbanista Kathellen Carvalho, de Recife, a identificação tem relação direta com a escolha de tudo que vai compor o ambiente, baseado em gostos pessoais e consequentemente na sensação de bem-estar proporcionado ao dono do espaço: “A arquitetura reflete muito o nosso estado de espírito e consegue externar a personalidade das pessoas”. Para detectar essas características particulares e assim criar o projeto, a profissional nos contou que no início do processo, ela e o cliente constroem juntos o briefing, momento em que são levantadas todas as informações possíveis “... é a hora em que são identificados os gostos particulares, quais locais são mais utilizados na casa e o estilo de vida que o cliente tem”. E é nessa hora que ela tem observado o crescente desejo da cozinha ser o principal espaço, já que houve uma mudança obrigatória da rotina, onde tornou-se necessário cozinhar em casa.
“A cozinha virou espaço para momentos de relações interpessoais, de participação dos integrantes da família, principalmente das crianças. Momento de resgates de memórias afetivas. As pessoas estão tendo mais carinho e atenção com a preparação da hora das refeições, estão fazendo mais questão de arrumar a mesa, com elementos que tornem a oportunidade agradável”. Mas antes disso, é preciso acontecer o match entre o cliente e o profissional. Dos interessados que procuram a Kathellen, 90% já tiveram contato com o seu trabalho através das redes sociais, que tem sido link importante até mesmo para relacionamento com clientes situados fora do país.
Segundo ela, a internet como um todo não só colabora para a captação de clientes, mas também para que eles já venham prontos, sabendo o que querem, inclusive em relação a materiais: “Eles chegam até mim conhecendo revestimentos e iluminação – mais entendidos sobre temperaturas da cor. Estão mais ousados e antenados com a variedade de itens que o mercado apresenta”.
De um lado temos a personalidade do contratante, do outro, a personalidade do arquiteto. Como fazer para conciliar os dois estilos? “Existem profissionais que sobrepõem seus estilos. É muito frequente chegarem projetos até mim por frustração do cliente em relação ao primeiro arquiteto contratado. Mudanças de projetos já feitos, acontecem muito”, constata. Kathellen não se define com um estilo limitante, fechado e complementa que “...todo o projeto é legal com suas peculiaridades. Cada um é uma oportunidade de aprendizados e troca de ideias”. E o que prevalece no final é o desejo do cliente, mas com a parte técnica correta e viável. “Sou uma realizadora de sonhos! E procuro fazer tudo de forma agradável buscando sempre a satisfação do cliente”.
Na outra ponta, até mesmo geograficamente falando, Emanuella Wojcikiewcz, arquiteta e urbanista em Florianópolis, nos contou um pouco sobre o quanto é importante quebrar padrões e ter dentro da sua própria casa o que se aprecia de verdade. Não tem mais como fugirmos de nós mesmos. Já que estamos passando mais tempo em casa, por que não colocar o que gostamos em um lugar de destaque?
Para Manu, todos os ambientes da casa são nobres, diferente do que era visto com muita frequência antigamente. “A sua casa reflete exatamente o que você é. Há um certo tempo, era comum a repetição de padrões, como aquela casa clássica da vó em que havia uma sala, somente usada em ocasiões especiais. Essa repetição sem pensar, fez com que as pessoas esquecessem que o lar tem que imprimir o sabor da vida que a gente tem” nos contou a arquiteta em sua sala de jantar, que tem como pano de fundo uma enorme estante de livros, mostrando que todo espaço pode ser bem utilizado para ocupar com o que se gosta, com o que dá prazer, com o sabor da vida que ela e sua esposa têm.
Ao mesmo tempo, em que existe essa movimentação pela busca de tornar os lugares mais personalizados, “O que falta nas pessoas é coragem”, citando Guimarães Rosa a arquiteta diz que “...muitos ainda têm receio de serem kitsch (estilo baseado em mistura de peças consideradas exageradas) e de expor algo na casa por medo de se revelar muito; não querem escancarar ou parar e pensar ‘por que eu tenho espaços tão grandes que nunca são usados?' ” E é neste momento em que se faz presente e necessário o profissional. Emanuella lamenta o fato de, em sua grade curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo não ter tido Introdução à Psicologia, pois na primeira reunião com o cliente, é preciso “psicologizar”... não existe pergunta idiota, tudo é válido para absorver todo o tipo de informação para compreender as necessidades e contextualizar, conceituar as ideias”. E contextualizar as ideias de um jeito muito próprio é o que a profissional faz: “O meu estilo foi sendo construído aos poucos. Se for para elencar uma característica, uma assinatura própria, eu diria que é a padronagem de desenhos de luz/iluminação”.
Não à toa, a maioria dos interessados buscam pela marca registrada da Emanuella,
por já terem tido contato com algum lugar projetado por ela, geralmente estabelecimentos comerciais. “...são pessoas que buscam por experiências sensoriais, que gostam do meu traço e frequentemente são mais ousadas. Querem uma pitada a mais, fogem do ‘feijão com arroz’. São clientes mais corajosos que usam a casa como espaço de galeria”. Mesmo assim, não há uma sobreposição de estilos e sim uma construção a 4 mãos do projeto. E quando há um conflito de interesses? Já aconteceu de clientes sem consonância com o estilo da arquiteta, chegarem até ela e a sua intuição avisar que não daria certo. E então, foram direcionados a outro profissional. Porém, cada caso é um caso, Manu afirmou “... já houveram projetos totalmente antagônicos em que o resultado foi satisfatório e de muito aprendizado”.
Vale tudo?
De um jeito ou de outro, com ajuda profissional ou inspirações e pesquisas feitas por conta própria; seguindo tendências ou não, o importante é encontrar a sua própria identidade e não ter medo de assumí-la. É cercar-se de elementos que construam um lar que tornem o seu relacionamento com o ambiente leve e o mais deleitável possível.
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Adorei essa matéria!